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Jose Saramago
 

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Quem não está sentindo medo, não entendeu

Crônica de Gisa Carvalho

Isso para mim define o Brasil hoje. Desde a noite de 14 de março estamos em choque com a execução da vereadora Marielle Franco, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) do Rio de Janeiro. Sinto medo.

 

Sinto medo, porque Marielle, mulher, negra, da favela, lésbica, mãe não se calava diante de um Estado cruel, assassino e corrupto. Diante de sua voz, Marielle foi executada com nove tiros, sendo quatro na cabeça, junto com o motorista Anderson Gomes, que a acompanhava na saída de um evento.


O Estado mandou Marielle calar a boca. Mas ela não calou. Hoje, dia 16, investigações apontam que o lote da munição usada no assassinato teria sido vendido à Polícia Federal. Deste mesmo lote, saíram as balas usadas em uma chacina na cidade de Osasco, São Paulo, no ano passado*. Marielle, que tentaram impedir de escancarar os excessos do Estado na intervenção militar no Rio de Janeiro, está nos contando para onde segue a munição paga por dinheiro público. Que deveria ser usada para a manutenção da segurança pública.


O assassinato de Marielle me dá medo, porque mostra a vulnerabilidade de quem luta. Porque me diz que há uma organização de poder munida até os dentes para apagar quem quer que tente atrapalhar seus planos – ver áudio de Aécio Neves. Porque derruba o argumento de que “ninguém está fazendo nada”. Quem faz, vira arquivo morto.


Mais fácil matar a mulher negra. Mais uma para as estatísticas. Dizer que a culpa é da violência urbana e que, por isso mesmo, deve-se investir mais na intervenção. É o discurso do presidente ilegítimo, que tem as mãos sujas de sangue enquanto “lamenta”.


Se mataram Marielle, com a visibilidade de pessoa pública, cuja voz faz barulho e incomoda, imaginemos o que acontece nas periferias. Onde o Estado violenta sem a vigilância de ninguém. Onde os desmandos – apontados por Marielle – não param.


O Brasil está de luto.


Marielle, Presente!



*Essa investigação ainda está sendo realizada e não há nada definitivo como resultado. Mas, diante de tais suspeitas, devemos permanecer vigilantes.

Publicado, 16/03/2018




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