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Estadia investigadora de Noemí Garrido Aniorte na FSCH-NOVA

 

A investigadora Noemí Garrido Aniorte, doutoranda e adjudicatária de um contrato pré-doutoral da Xunta de Galiza (2023-2027), realizará uma estadia de investigação para desenvolver uma parte da investigação doutoral na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-NOVA), sob a supervisão da Prof.ª Doutora Joana Meirim. A estadia, financiada ao abrigo do mesmo contrato, terá uma duração de três meses, de 1 de maio a 31 de julho.

 

O título da tese doutoral em curso é “Género y resistencia contracultural durante la transición española: Blanca Andreu y Xela Arias”.

 

Resumo:

Esta tese doutoral parte da análise textual de obras poéticas de autoria feminina a partir de uma perspetiva crítica feminista e de género, combinando ferramentas da literatura comparada e dos estudos ibéricos. Tanto Blanca Andreu (A Corunha, 1959) como Xela Arias (Sarria, Lugo, 1962 – Vigo, 2003) irrompem na década de oitenta de forma inovadora e renovadora nos seus respetivos campos literários: o espanhol e o galego.

 

O primeiro livro de poemas de Blanca Andreu, que recebeu o Prémio Adonáis em 1980, De una niña de provincias que se vino a vivir en un Chagall (1981), transgressor e subversivo, expressa aberta e publicamente o despertar sexual e o desejo femininos, bem como o mundo das drogas, evidência da rutura vital e moral impulsionada pela juventude no período da Transição espanhola.

 

Por sua vez, Denuncia do equilíbrio (1986), de Xela Arias, supôs uma renovação do leque temático da poesia galega escrita até esse momento, introduzindo elementos contemporâneos e urbanos, ao mesmo tempo que experimentava com a linguagem: destacam as imagens utilizadas em composições que se afastam da “estética culturalista” dominante dos anos oitenta, com uma intenção clara de rutura e modernidade.

 

Ante as narrativas que apresentam a Transição espanhola como um processo fechado e consensual, esta investigação propõe uma revisão crítica que entende o referido período como um tempo alongado, de limites indefinidos, atravessado por ambiguidades, silêncios e exclusões. Parte-se da hipótese de que a poesia escrita por mulheres desempenhou um papel crucial na articulação de uma voz feminina e feminista durante uma altura de profunda transformação sociopolítica, coletiva, mas também individual.

 

A inclusão nesta investigação da obra poética completa de Adília Lopes (Lisboa, 1960-2024) responde a um alargamento do enfoque ibérico, que incorpora o contexto da Revolução dos Cravos e a transição democrática portuguesa. Adília Lopes, poeta marginal cujas primeiras edições eram obras de culto de uma minoria, partilha com as poetas Xela Arias e Blanca Andreu um impulso resistente e crítico desde as margens contraculturais. Elabora uma voz poética singular que desestabiliza os discursos normativos do íntimo e do doméstico.

 

As obras das três autoras traçam uma genealogia dissidente da lírica peninsular da segunda metade do século XX até à atualidade, ao articularem intervenções poéticas e políticas desde o “espaço intermédio” contracultural, que permite contestar as lógicas culturais, estéticas e políticas, e pensar estas práticas poéticas marginais como processos dinâmicos entre a periferia e o centro, questionando e reconfigurando o cânone institucional e as formas de representação cultural.

 

Noemí Garrido Aniorte é investigadora colaboradora da Cátedra Internacional José Saramago e membro do grupo de investigação BiFeGa, da Universidade de Vigo. Os seus interesses centram-se nos estudos de género e crítica feminista, a poesia contemporânea galega e espanhola, as relações entre poesia e política e, dentro dos estudos interartes, a interconexão entre poesia e práticas performativas. No ano 2023 realizou uma estadia de investigação na Universitat de Barcelona, no Centre de Recerca Teoria, Gènere, Sexualitat - ADHUC. Entre as mais recentes publicações destacam-se o artigo "Poética del acto fantasmal, entre la perplejidad y el compromiso: Xela Arias en el Festival da Poesía no Condado", publicado na revista Abriu, 13 (2024) e o capítulo (em coautoria com Burghard Baltrusch) "Uma mulher ainda não parou o mais longo gemido do mundo: Breves reflexões sobre a perfopoesia de Silvia Penas", em Romper o solo instável – Sobre a Herança Filosófica e Poético-Política de José Saramago (2024).

Publicado, 14/05/2025




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Feminismos
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