Primavera do cine: “E o prémio para o melhor filme foi para…”
O festival Primavera do Cine de Vigo chegou ao seu
fim. Entre o 8 e o 13 de maio, desde fotogramas a ecrãs, dentro de
salas de cinema e em exibições ao ar livre, entre a realidade e a
ficção, das atividades prévias até à gala de encerramento...
foram uns dias intensos!
O Primavera de Cine é um festival internacional que se realiza em Vigo e que se centra no cinema galego e lusófono mais atual. Nestes dias de maio puderam ser vistas curtas-metragens, longas-metragens, curtas de animação, videoclips… Houve também cinema nos bairros, cinema "miúdo" para crianças e uma pequena mostra de cinema brasileiro, uma vez que o Brasil foi o país convidado desta edição, entre outras atividades. Desde a Cátedra Internacional José Saramago estamos orgulhosos de termos podido apoiar este festival luso-galaico tão necessário e importante.
No domingo, dia 13 de maio, teve lugar a gala de encerramento na qual pudemos conhecer os nomes dos filmes galardoados: o prémio à melhor longa-metragem lusófona foi para A Fábrica de Nada, do português Pedro Pinho, e o prémio para a melhor longa-metragem galega foi para Trinta lumes, da galega Diana Toucedo.
Desta vez, nem que seja, o velho ditado bíblico “os últimos serão os primeiros” cumpre-se, pois, na programação do Primavera do Cine, A Fábrica de Nada foi o último filme exibido. Neste filme, um grupo de operários tenta evitar o encerramento da fábrica em que trabalhavam e, após descobrirem uma noite que a administração está a desmantelar a fábrica aos poucos, decidem organizar-se. Como retaliação, os patrões obrigam-nos a permanecer nos seus postos sem fazer nada. Finalmente, conseguem unir-se para instaurar um sistema de autogestão coletiva. Pedro Pinho assina a realização mas o filme foi construído em conjunto com Luísa Homem, Leonor Noivo e Tiago Hespanha, baseado na ideia de Jorge Silva Melo e na peça de teatro A Fábrica de Nada da escritora holandesa Judith Herzberg.
A Fábrica de Nada (Pedro Pinho, 2017) levou o prémio ao melhor filme lusófono do Primavera de Cine “pela sua capacidade para
mostrar a conexão existente entre o passado e o presente das lutas
operárias, entre a história nacional portuguesa e a realidade atual
europeia; pelo seu canto à solidariedade e ao empoderamento das
pessoas; pelo seu magistral uso dos géneros e dos tempos em função
da narrativa; pela verdade e a credibilidade do elenco e pela sua
capacidade para criar um diálogo com o público espetador que
explora o eterno retorno dos males e a imoralidade do sistema
capitalista”.
Pedro Pinho estudou
na Escola Superior de Teatro e Cinema, em Lisboa e na École
nationale supérieure Louis-Lumière de Paris. Completou cursos de
pós-graduação em realização e guionismo da London Film School na
Fundação
Calouste Gulbenkian. Em 2009 criou a produtora Terratreme Films
juntamente com cinco colegas. A Fábrica de Nada é a sua primeira
longa-metragem de ficção e, entre outros, co-realizou o documentário
Bab Sebta (2008) e a média-metragem
de ficção Um
Fim do Mundo (2013).
O prémio para o melhor filme galego foi para o filme Trinta lumes, de Diana Toucedo. Este trabalho, entre o documental e a ficção, ocorre nas montanhas do Courel, onde a vida quotidiana dos seus habitantes aparece intercalada coa viagem de uma menina de 12 anos, Alba, que quer descobrir a fascinante realidade da morte. À procura do desconhecido e o misterioso, ela e o seu amigo Samuel entram em casas abandonadas e percorrem aldeias e montanhas remotas que escondem um mundo paralelo.
Trinta lumes (Diana Toucedo, 2017) recebeu este galardão “pela sua muito precisa e brilhante construção formal criadora; pelo jogo estético-narrativo maravilhoso entre imagem e som; pelo trabalho profundo e cuidadoso de pesquisa etnográfica que realiza e a assombrosa capacidade de aproximação de uma realidade natural e humana que apenas parece estar perdida no tempo, mas que se continua a reciclar; pela magia do imaginário do escritor galego Álvaro Cunqueiro, presente na sua atmosfera, e pela sua reflexão sabia e poética sobre a morte e o mundo da aldeia”.
TRINTA LUMES / THIRTY SOULS (trailer) from Diana Toucedo on Vimeo.
Diana Toucedo, cineasta e montadora, frequentou o
curso de cinema na Escuela Superior de Cine y Audiovisuales de
Catalunha (da Universidade Autónoma de Barcelona) e o Mestrado de
Teoria Cinematográfica Contemporánea na Universidade Pompeu Fabra.
Como montadora, tem trabalhado em La noche que no acaba, de Isaki
Lacuesta; o filme de animação Chico y Rita, de Fernando Trueba e O
Quinto Evanxeo de Gaspar Hauser, de Alberto Gracia. Também é
professora de montagem audiovisual na Universidade Pompeu Fabra, na
Universidade Autónoma de Barcelona e na ESCAC.