Jarid Arraes e o Feminismo Negro em Poesia
A poesia de cordel, como já vem sento tratada em nossos trabalhos de investigação, é um lugar de luta. E as temáticas abordadas, associadas a reivindicação por legitimidade e reconhecimento cultural, são parte desse movimento político de resistência na literatura. E assim está inserida em nossa discussão a produção artística e ativista da poeta Jarid Arraes.
Jarid é filha e neta de poetas cordelistas. Homens. Cada um politicamente marcado em suas produções. Do conservadorismo tradicional de Abraão Batista (avô), passando pela proposta de rompimento de Hamurabi, membro do grupo dos cordelistas “Mauditos” e chegando a um ativismo feminista manifesto seja nas poesias de cordel publicadas em folhetos, livros e páginas da Internet da autora, propagado em suas páginas de redes sociais e enunciados em oficinas de escrita feminista, em eventos de lançamento, palestra e entrevistas para a mídia.
Uma mulher negra que considera a importância da autoidentificação racial e de contar histórias de heroínas negras para romper com a historiografia oficial, que tradicionalmente dá ênfase e destaque às pessoas brancas, deixando os relatos sobre pessoas negras circunscritos às narrativas da escravidão. Jarid tem uma poesia política, engajada e combativa. Preocupa-se com as capas, com as ilustrações e com questões editoriais. E tudo isso é possível de ser notado em suas publicações e confirmado em suas falas em palestras.
São dois livros publicados – “As Lendas de Dandara” e “Heroínas Negras” e mais dezenas de folhetos disponíveis em sua página da Internet, impressos por encomenda. Também é possível encontrar versos publicados na revista Fórum. Esta visibilidade tem feito com que a poeta tenha um público crescente e cada vez mais interessado em discutir as questões levantadas por ela. Seus lançamentos – que não costumam acontecer em grandes livrarias – ficam lotados de pessoas que acompanham seu trabalho, que compartilham de suas posições políticas e que se identificam como fãs da escritora.
Curiosamente, e talvez por um movimento conservador inclusive dentro do mercado editorial dos cordéis, os livros de Jarid não estão disponíveis em livrarias do Nordeste brasileiro, região onde tradicionalmente são produzidos e consumidos os folhetos. Trata-se de um mercado que afirma apoiar a produção e publicação feminina, mas que permanece abrindo muito mais espaço aos homens, situando as mulheres como o “embelezamento” da poesia.
As poesias de Jarid ainda devem aparecer outras vezes em nossos escritos. Temos grande interesse em refletir sobre as questões políticas na poesia de cordel que, inclusive, contribuem para a reconfiguração constante das definições do que chamamos de cordel. E a poesia de Jarid é intensa no sentido das transformações possíveis da poesia de cordel. Não em sua estrutura ou forma, mas pelas narrativas que se configuram formas importantes de fazer ver o mundo. O cordel de Jarid é instrumento de luta.
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