Poesia oral, tradicional e popular e a política
Iniciamos, a partir de hoje, uma série de posts sobre Literatura Oral/Tradicional, com a colaboração da professora Gisa Carvalho, doutoranda em Comunicação pela UFMG, que está a realizar um estágio na UVIGO/CJS. Na nova página deste site, Literatura Oral/Tradicional, ofereceremos a partir de agora informação e documentação sobre diversos aspectos deste tema. A obra de José Saramago guarda uma relação íntima com as mais diversas formas da oralidade e da literatura tradicional, o que justifica que nos debrucemos, também, sobre este tema, dentro do qual também exploraremos algumas das suas dimensões políticas.
As questões políticas, além de serem decisivas na vida pública e pautarem discussões sobre poder e governabilidade, também se manifestam nas expressões artísticas. Na poesia, inclusive oral, isso não deixa de aparecer. Nem sempre em tons partidários, mas sempre com posicionamentos ideológicos – se consideramos que a ideologia é elemento fundamental da linguagem. A poesia carrega, declaradamente, por figuras de linguagem ou mesmo pela escolha das palavras, aspectos políticos que podem ser de militância ou do posicionamento quase silencioso das e dos poetas.
É como o caso da poesia popular, que é política e, em si, uma forma de resistência. Enquanto as elites culturais, com todos os seus recursos e aparatos canônicos apoiados pelas instituições formais de conhecimento se afirmam e se legitimam, a existência de uma produção artístico-cultural por parte das camadas não hegemônicas é sinal de luta. A poesia popular resiste ao mercado editorial inflado, criando seus próprios mecanismos de permanência, de renovação e de visibilidade.
Pela oralidade e performance, poetas realizam trabalhos de resistência, de luta, de manifesto em defesa de si, como cultura popular, mas também como recurso de visibilidade para movimentos sociais. Não encontrando o devido espaço na mídia hegemônica, a poesia oral popular é um espaço alternativo para a circulação de temáticas como as questões raciais, econômicas e de gênero, por exemplo.
Deste modo, a poesia popular se transforma, porque acompanha as modificações espaço-temporais, sejam técnicas ou de conteúdo, e se mantém viva como tradição. Uma tradição que, por mais que utilize outros recursos de produção e circulação, mantém o intuito comunicacional de ser rede, de ser trama narrativa de seu tempo, assumindo (declaradamente ou não) posições políticas e ideológicas que conseguimos identificar desde breves às mais profundas análises críticas do discurso.
A poesia é lugar de luta.
Gisa Carvalho
Jornalista. Doutoranda em Comunicação Social (UFMG-BR). Mestre em Estudos da Mídia (UFRN-BR). Colaboradora da I Cátedra Internacional José Saramago