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± Público & Político: Miguel Januário em Vigo

A CJS e o projeto de investigação "Poesia Atual e Política - Análise das relações contemporâneas entre produção cultural e contexto sociopolítico" (POEPOLIT, FFI2016-77584-P, 2016-2019) convidaram o artista urbano ±MaisMenos± (i.e. Miguel Januário) a realizar duas atividades em Vigo:

Conferência: "O Principal é Agir: o Projeto  ±  nos Espaços Público & Político"
12 de julho, 19h00, no Centro Cultural Português – Camões I.P., Vigo.
Entrada gratuita e aberta ao público.

Seminário: "± Público & Político"
13 de julho, 11h00, no Centro Cultural Português – Camões I.P., Vigo.
Entrada gratuita sujeita a inscrição prévia, até 11 de julho em catedrasaramago@uvigo.es.




Alguns breves apontamentos sobre a obra:

A obra do artista portuense ±MaisMenos± (i.e. Miguel Januário) trata das relações entre consumo e poder, arte e sistema. Miguel Januário entende a arte urbana como uma actividade política e podíamos caracterizá-la como um projecto poético-político multimedial.

Estudou design gráfico e desenvolve, desde 2005, o projecto ±MaisMenos± de forma profissional, como se fosse uma marca comercial, com uma mensagem crítica em relação aos sistemas político, económico e artístico. O projecto combina acções de street art (graffiti, performances, objectos artísticos), que são documentadas e depois disponibilizadas na internet, com a participação em exposições e conferências.[1]

O artista caracteriza a internet como “rua virtual”, na qual pretende prolongar a street art com outros meios. Autodefine a sua actividade como um projecto de intervenção que reflexiona sobre a organização política, social e económica da nossa sociedade ocidental através de uma expressão programática simplificada com dicotomias como mais/menos, positivo/negativo, branco/preto, etc., num contexto transmedial (texto-imagem-vídeo), criando diferentes neologismos críticos para as suas intervenções públicas como quotactions, objections o streetments.

O projecto pode ser inserido na linhagem da poesia concreta e da sua subversão e transfiguração antropofágica da linguagem publicitária e dos discursos institucionalizados. As suas performances em Guimarães 2012, como o esfaqueamento da estátua de Afonso Henriques ou o enterro simbólico de Portugal suscitaram pequenas polémicas nos meios de comunicação social.[2]

±MaisMenos± é um projecto artístico que partiu dos vazios entre legalidade e ilegalidade na rua, seja através de intervenções ou de performances vídeo, para chegar às galerias com a ideia de transformá-las em espaço de intervenção e de criar uma relação entre as peças e as pessoas. A sua primeira grande exposição, “Sell out”, foi realizada em 2013, na galeria Underdogs, dirigida por Alexandre Farto (Vhils) e Pauline Foessel, centrando-se no tema da sociedade de consumo e nas desagregações que esta origina e que estão intimamente relacionados com o conceito do espaço públic
“O espaço é aparente público mas na verdade é privado. Vivemos num mundo onde as identidades, o ser, se confundem com o ter” (Miguel Januário).
Na mesma galeria organizou, dois anos mais tarde, a sua segunda exposição individual, “O Princípio do Fim” (2015), uma reflexão sobre a ideia do território, na qual quis mostrar as “assimetrias, abusos e hipocrisias manifestos nas sociedades contemporâneas abastadas”.[3]

No contexto do mesmo evento também levou a cabo uma acção junto da peça “Portugal a banhos” de Joana Vasconcelos, uma piscina de vinil com a forma de Portugal instalada no Terreiro do Paço por ocasião das comemorações do centenário da República. Ao lado desta peça, que segundo a autora pretendia “pôr o público a pensar sobre este imediatismo e consumismo”,[4] Januário colocou um estandarte com um pano, que levava escrita uma frase em espanhol do Evangelii Gaudium (2013) do Papa Francisc “La realidad es más importante que la idea”.

Apesar da intervenção imediata de seguranças e polícia, que exigiram a retirada do pano, a acção foi documentada e o artista resumia a sua intenção desta forma:
“estou a intervir sobre uma obra daquela que é considerada a ‘artista do sistema’. E nesse sentido pode ser olhado também como uma crítica ao mundo da arte contemporânea portuguesa”
Advertiu que a sua performance também deve ser entendida como “auto-crítica”:
“uma crítica a qualquer artista de intervenção, porque o que interessa é a realidade e não a ideia que concebemos sobre ela”.

(Burghard Baltrusch)


[1] Cf. <maismenos.net> e os canais <youtube.com/user/plusqueminusque> e <vimeo.com/plusqueminusque>; colaborou também em <ministeriodacontrapropaganda.wordpress.com> com cartazes publicitários subversivos. Além das participações no programa de “Guimarães – Capital Europeia da Cultura” (2012), as suas obras foram divulgadas na exposição itinerante "Street Art - Um Panorama Urbano" (São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília 2014, junto com artistas como Banksy, os franceses Jef Aerosol e Rero, o brasileiro Nunca e o grupo italiano StenLex). Realizou duas exposições individuais na galeria Underdogs: “Sell out” (2013) e “O Princípio do Fim” (2015). Um exemplo de conferência seria a sua participação nos TEDx Talks, https://www.youtube.com/watch?v=K3RO7tCxhQ0. (Últimos acessos: 13/03/2016.)
[2] Cf. <rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=25&did=76271> ou também as suas performances e vídeos com transfigurações das letras de “Grândola, vila morena” ou do hino nacional de Portugal, entre outros, em <maismenos.net> (últimos acessos: 13/03/2016).
[3] Da apresentação da exposição in <under-dogs.net/exhibitions/maismenos-solo-show-32> (último acess 15/03/2016), onde também se disponibilizam fotografias da exposição.
[4] In <publico.pt/local/noticia/joana-vasconcelos-expoe-piscina-no-terreiro-do-paco-para-questionar-o-pais-1462283> (último acess 15/03/2016).
Publicado, 29/06/2017




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