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Entrevista a José Saramago em 17/09/1974

Disponibilizamos aqui a transcrição de uma entrevista de José Saramago que foi a sua estreia televisiva. A transcrição foi realizada por Burghard Baltrusch e Alba Vidal em 2023, como início das actividades de comemoração que realizará a CJS dos 50 anos do 25 de Abril, que se comemorarão em 2024.

Provavelmente, esta entrevista represente a primeira declaração pública de José Saramago sobre o seu livro de poemas O Ano 1993, que só se iria publicar em 1975. A entrevista correu somente seis meses após a Revolução dos Cravos e marcou também a estreia televisiva do autor. Questionado por José Carlos Vasconcelos sobre a sua vida, a sua obra literária e a situação dos escritores em Portugal após o 25 de Abril, e que caracteriza como “trabalhadores literários”, Saramago explica que O Ano 1993 "tinha algo a ver com a nova situação política em Portugal". Afirma que a revolução interrompera quase "tragicamente" o processo de escrita de O Ano 1993 e que "de repente o livro já não parecia adequado às circunstâncias". No livro fala-se de um país ocupado que, no entanto, se encontrava subitamente a caminho da libertação. A razão decisiva para não abandonar o projeto foi, no entanto, o sentimento de que "afinal não estamos tão seguros da nossa liberdade", especialmente considerando que a entrevista ocorreu pouco depois do primeiro aniversário do golpe de Estado no Chile em 11 de setembro de 1973, orquestrado pelos Estados Unidos, que também influenciou os acontecimentos pós-revolucionários em Portugal. A entrevista representa um exemplo inicial de como Saramago, dali em diante, associou de maneira pública e impactante as preocupações estéticas e éticas intrinsecamente ligadas à sua obra com os acontecimentos políticos globais. Este importante documento ilustra o compromisso literário do escritor que Saramago aspirava e tornou a ser. Na entrevista chega a perguntar: "O que se espera de um escritor neste país que almejamos renovar? O que uma sociedade deseja de um escritor?". E ele próprio respondeu, no espírito de um existencialismo à portuguesa: O escritor deve transcender o "gueto cultural", superar e incluir o empenhamento político na sua obra literária, tanto mais que a "capacidade de se ligar ao mundo" é uma capacidade intrinsecamente portuguesa.

A entrevista, que se mostrou também na nossa exposição "Graça Morais e José Saramago - a arte de pensar O Ano de 1993", pode ser visualizada no Arquivo RTP.

Publicado, 20/09/2023




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