Mesa-redonda I - VII Conferência Internacional José Saramago - “Saramago hoje: a questão decolonial e a voz das autoras”.
No primeiro dia da VII Conferência Internacional José Saramago: "A Herança Filosófica e Sociopolítica de José Saramago" (26 de outubro), no Auditório do Centro de Visitantes do Parque Nacional Illas Atlánticas de Galicia, às 15:30h, terá lugar a mesa-redonda "Saramago hoje: a questão decolonial e a voz das autoras”. Moderada por Rita Chaves, a primeira mesa-redonda da VII Conferência contará com a participação de Maíra Zenun, Gisela Casimiro e Patrícia Lino.
O mote desta mesa-redonda será um pequeno excerto do que José Saramago escreveu para o Diário de Notícias, a 25 de junho de 1975, dia da independência de Moçambique:
"Lamentamos os que morreram, os vossos e os nossos. Lamentamos mais os nossos porque morreram no lugar errado. Sim, no lugar errado. Quem dos vossos morreu, morreu pela pátria que nascia. Os nossos morreram a defender o que desta pátria não era, morreram a defender o colonialismo, colonizados eles próprios, e enganados. Talvez não consigamos nunca curar-nos deste remorso. Talvez mesmo devamos recusar curar-nos para que saibamos sempre o que devemos defender e o que devemos combater"
(Folhas Políticas, 111)
Embora na sua obra literária não haja muitas referências a África, Saramago sempre defendeu publicamente posições contra o colonialismo e os seus ecos na realidade portuguesa. Tendo em conta os recentes debates e polémicas sobre o colonialismo e o racismo, a sua história e memória em Portugal, no Brasil e no continente africano, convidamos autoras desses espaços para conhecermos a sua opinião sobre estes temas, a relação da sua obra artística com estas problemáticas e o significado que a literatura e o activismo de José Saramago detém para elas.
Nesta mesa-redonda, contaremos com a presença da artista e poeta brasileira Maíra Zenun (radicada em Portugal), da escritora, artista e performer portuguesa Gisela Casimiro, nascida na Guiné-Bissau, e da poeta, ensaísta e professora universitária portuguesa Patrícia Lino. A partir das obras, do pensamento e da atuação das nossas convidadas, o debate centrar-se-á no que Saramago - enquanto autor, ativista, homem, figura já institucionalizada, canonizada, mas também polémica - pode representar (ou não) para a discussão atual acerca da história do colonialismo e da sua relação com outros espaços de língua portuguesa, acerca do racismo e do sexismo e acerca das perspectivas do feminismo negro. Como moderadora, actuará a professora Rita Chaves, uma conhecida especialista em Estudos Africanos da Universidade de São Paulo.
Maíra Zenun é artista imigrante mãe, poeta brasileira em trânsito. Nasceu no Rio de Janeiro, foi criada em Petrópolis, cresceu em Brasília e atualmente é da Linha de Sintra, Amadora, Portugal. É mestre em Fotografia Artística pelo IPCI com o trabalho Aula de história (2022); e doutora em Sociologia da Cultura pela UFG, com a tese A Cidade e o Cinema [Negro]: o caso FESPACO (2019), sobre o maior e mais antigo festival de cinema que acontece em África.Desde o início da sua atividade de investigação acerca da produção audiovisual realizada por pessoas negras, tem tido a oportunidade de conviver e trabalhar com profissionais da educação e das artes visuais de diversos países como Zimbábue, Uganda, Reino Unido, Portugal, Moçambique, México, Guiné Bissau, Gana, Cuba, Costa do Marfim, Chile, Cabo Verde, Burkina Faso, Brasil, Angola e Alemanha, estreitando, desta forma, laços profissionais e de afeto com essas pessoas e os seus países.
Estes encontros têm resultado em projetos de criação criativa e pesquisas, programação cultural, performances, artigos, escrevivências, roteiros, textos poéticos, crónicas visuais e ensaios e toda uma produção sobre cinemas africanos, cinemas negros, metodologias contra-coloniais, migração forçada, fronteiras inventadas e poéticas antirracistas, depositados em coleções privadas, blogs, publicações impressas e virtuais. Participou, em Lisboa, na criação da Nêga Filmes & Produções. Em 2020, foram publicados ensaios como "Feliz, cidade, Félicité? - ou notas breves sobre um filme anticolonialista". Também passou a integrar, como investigadora convidada, o projeto Memórias que vêm das palavras: olhares museológicos para as literaturas de mulheres negras da UFPA e o grupo Memória, Arte e Alteridade da UFT. Em 2021, foi publicado o artigo "Cinemas negros: do recôncavo à kova" no livro Cinema Negro Baiano.
Gisela Casimiro (Guiné-Bissau, 1984) é uma escritora,artista e performer portuguesa. Estudou Línguas, Literaturas e Culturas (Estudos Portugueses e Ingleses) na NOVA/FCSH. Integrou antologias como Rio das Pérolas (2020), Venceremos! Discursos escolhidos de Thomas Sankara (2020), As Penélopes (2021), Reconstituição Portuguesa (2022), vencedora Grand Prix de Design no Festival Internacional de Publicidade Cannes Lions, Trás Los Claveles (2022) e Este Imenso Mar (2022). Nos últimos anos, tem contribuído regularmente com crónicas para Hoje Macau, Buala, Contemporânea, Setenta e Quatro. Para além disso, colabora com diversos museus, teatros, associações culturais, escolas e universidades como jurada, formadora, consultora, intérprete e moderadora. Foi convidada de festivais literários em Portugal, Turquia, Macau, Moçambique, Alemanha e Cabo Verde. Interpretou espetáculos no CCB, São Luiz e TBA. Participou em exposições individuais e coletivas no Armário, Zé dos Bois, Balcony, Casa do Capitão, Quetzal Art Center, Galeria Municipal do Porto, Galeria Municipal de Almada, Museu de Arte Contemporânea de Elvas. Integra a Coleção António Cachola. Foi membro do INMUNE e faz parte da UNA - União Negra das Artes. A sua obra está traduzida em línguas como o turco, alemão e espanhol.
Patrícia Lino (1990) é poeta, ensaísta e professora universitária. Ensina literaturas e artes visuais afro-luso-brasileiras na UCLA e publicou, até à data, Aula de Música (2022), O Kit de sobrevivência do descobridor português no mundo anticolonial (2020), No es esto un libro (trad.: Jerónimo Pizarro, 2020) e Manoel de Barros e a Poesia Cínica (2019). Dirigiu recentemente DAEDALUS 22/1 (BRA 2021), Anticorpo. Uma paródia do império risível (EUA-POR 2019) e Vibrant Hands (EUA-POR 2019). Lançou também o álbum de poesia mixada I Who Cannot Sing (2020). Apresentou, publicou e expôs ainda ensaios, poemas e ilustrações em mais de sete países. A sua investigação centra-se na poesia contemporânea, culturas visual e audiovisual, paródia, anticolonialismo e cinema luso-brasileiro. É membro integrado do UCLA Latin American Institute, colaboradora do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa e co-cordenadora d'A Colecção, linha editorial das Edições Macondo dedicada à publicação da poesia portuguesa contemporânea no Brasil. http://patricialino.com.
Na imagem, da esquerda para a direita (a partir do canto superior esquerdo): Maíra Zenun, Rita Chaves, Gisela Casimiro e Patrícia Lino.
Imagem Rita Chaves: Cortesia de Rita Chaves
Imagem Maíra Zenun: Cortesia de Maíra Zenun
Imagem Gisela Casimiro: Filipe Ferreira
Imagem Patrícia Lino: Cortesia de Patrícia Lino